A líder Maria Felipa foi nomeada Heroína da Pátria Brasileira Foto: Acervo UFF
Para refletir sobre o dia da Consciência Negra, a Alma Preta selecionou cinco trajetórias de mulheres negras que marcaram a história das lutas antirracistas no Brasil e no mundo

Por CADERNO B com Alma Preta Jornalismo
CRÉDITOS: https://www.jb.com.br/caderno-b/2025/11/1057688-cinco-mulheres-revolucionarias-para-voce-conhecer-no-dia-da-consciencia-negra.html
Por Verônica Serpa – Nesta quinta-feira, 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra. O feriado, em memória de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história do Brasil, é um chamado para a reflexão sobre as lutas e as conquistas coletivas da comunidade negra.
Entre as batalhas travadas pela emancipação das pessoas negras no país e ao redor do globo, muitas delas tiveram as mulheres como peça-chave. A Alma Preta selecionou cinco mulheres revolucionárias para ressaltar a importância do protagonismo feminino negro no enfrentamento às múltiplas facetas do racismo.
Maria Felipa
A estrategista descendente de escravos sudaneses liderou um grupo de 200 pessoas, entre escravizados e libertos, contra embarcações portuguesas que estavam nas imediações da Ilha de Itaparica, na Bahia.
Pescadora, capoeirista e vendedora, Maria Felipa encabeçou equipes masculinas e femininas de diferentes etnias para vigiar as praias e fortificar trincheiras para prevenir a chegada de novos exércitos. Em uma de suas iniciativas, ateou fogo em cerca de 40 embarcações e expulsou os portugueses do local.
A líder foi nomeada Heroína da Pátria Brasileira em 2018, e teve seu nome inscrito no “Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves”, em Brasília.
Suzanne Sanité Bélair
Reconhecida como heroína da revolução haitiana, Suzanne Sanité Bélair foi uma participante ativa contra a escravidão no país, tendo servido como sargento do exército de Toussaint L’Ouverture, um dos maiores líderes negros da revolução que depôs o regime escravista francês no Haiti.
Bélair participou diretamente de confrontos contra as tropas de Napoleão Bonaparte e foi responsável pelo levante de quase toda a população escravizada de sua cidade natal, L’Artibonite.
Ao ser capturada por franceses e condenada à morte, a sargento recusou-se à pena de decapitação, destinada às mulheres, e exigiu ser morta por fuzilamento como os demais combatentes.
Assata Shakur
Assata Shakur foi integrante do Partido dos Panteras Negras e ex-líder do grupo revolucionário de guerrilha urbana Exército da Libertação Negra, tendo um grande legado na luta por condições igualitárias para a população afro-americana.
A ativista ajudou a implementar diversas ações sociais na região do Harlem e se engajou com ideais de teóricos revolucionários do socialismo africano, aprofundando os debates interseccionais entre raça e classe social.
O grupo de guerrilha se tornou alvo da repressão do Departamento Federal de Investigação (FBI) e, em decorrência, Shakur chegou a ser incluída na lista de terroristas mais procurados. Em 1973, foi vítima de uma emboscada policial, detida e condenada à prisão perpétua. Segundo relatos de seu livro, a líder foi alvo de abusos físicos durante o cárcere.
A militante fugiu da prisão em 1970, com a ajuda de outros integrantes do Panteras Negras, e se exilou em Cuba. Até o dia de sua morte, em 26 de setembro, o governo dos Estados Unidos solicitou sua extradição.
Solitude
Considerada como uma das principais figuras da luta antiescravagista de Guadalupe, Solitude somou as forças de combate contra o decreto de Napoleão que restabelecia a escravidão das ilhas caribenhas, oito anos após a abolição.
Após o decreto, as forças francesas enviaram 3,5 mil soldados para garantir o cumprimento da norma nas colônias. Mesmo grávida, a mulher liderou um grupo no assentamento quilombola de La Goyave, ao qual integrava, para revidar os ataques dos militares.
A resistência liderada por Solitude foi superada pelos franceses e a combatente foi condenada à pena de morte, tendo sido executada um ano após o nascimento de seu filho.
Funmilayo Ransome-Kuti
Funmilayo Ransome-Kuti, nascida em 1900 em Abeokuta, foi uma das principais lideranças feministas da Nigéria no século XX. De origem iorubá, estudou na Abeokuta Grammar School e na Inglaterra, onde reafirmou sua identidade ao adotar o nome Funmilayo. De volta ao país, retomou o magistério, casou-se com Israel Ransome-Kuti e participou da criação do Abeokuta Ladies Club.
Nos anos 1940, liderou a transformação do clube na Abeokuta Women’s Union, que reuniu mulheres pobres e vendedoras dos mercados. Organizou protestos contra o controle de preços e contra um imposto especial que penalizava essas trabalhadoras.
As mobilizações levaram à abdicação temporária do governante local em 1949. Sua atuação nacional defendeu educação, saúde e melhores condições de vida para mulheres.
Entre 1949 e 1960, ocupou cargos públicos e disputou eleições, chegando a fundar seu próprio partido. Na década de 1970, adotou o sobrenome Anikulapo-Kuti, aproximando-se ainda mais da cultura iorubá e do caminho de seu filho, o músico Fela Kuti. Em 1977, foi atacada por soldados durante uma invasão à República de Kalakuta e morreu no ano seguinte em decorrência dos ferimentos.