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PF mira ex-assessora de Lira em Buscas na Câmara sobre orçamento secreto

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) realizou, na última sexta-feira (12), uma série de mandados de busca e apreensão na Câmara dos Deputados, com o principal alvo sendo Mariângela Fialek, conhecida como “Tuca”. Ex-assessora do deputado Arthur Lira (PP-AL), que presidiu a Casa Legislativa, Fialek é investigada por seu suposto envolvimento na manipulação e direcionamento de emendas parlamentares do controverso “orçamento secreto”. As diligências foram autorizadas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), e representam um avanço significativo nas apurações sobre o uso irregular de verbas públicas. A operação da Polícia Federal busca coletar evidências físicas que possam corroborar os indícios já levantados sobre a atuação da ex-assessora na gestão dessas emendas.

A operação da Polícia Federal e o alvo principal

A incursão da Polícia Federal nas dependências da Câmara dos Deputados no dia 12 de janeiro marcou um momento crucial nas investigações que cercam o chamado “orçamento secreto”. O foco central da operação foi Mariângela Fialek, apelidada de “Tuca”, uma figura que ocupou uma posição estratégica como assessora do deputado Arthur Lira durante o período em que ele esteve à frente da presidência da Câmara. Atualmente, Fialek mantém um cargo no gabinete da presidência do Partido Progressistas (PP) na Casa. As suspeitas que pesam sobre ela são de que teria sido a responsável por orquestrar e enviar ordens diretas a diversas comissões legislativas, visando a liberação de emendas parlamentares que se enquadram nas práticas do “orçamento secreto”.

O papel de Mariângela Fialek e as alegações

As investigações apontam que Mariângela Fialek, agindo sob sua suposta influência, teria desempenhado um papel central na facilitação do esquema. Sua função, segundo os relatos e indícios, seria a de encaminhar ofícios originários da Presidência da Câmara às comissões, determinando a destinação de volumosas verbas públicas. Notavelmente, grande parte dessas emendas teria sido direcionada para o estado de Alagoas, base eleitoral do deputado Arthur Lira, levantando sérias questões sobre o uso político e clientelista dos recursos. O “orçamento secreto”, como ficou popularmente conhecido, refere-se à alocação de verbas federais sem a devida transparência na identificação dos parlamentares proponentes ou dos beneficiários finais, dificultando o rastreamento e a fiscalização do dinheiro público.

A base da investigação: depoimentos e quebra de sigilo

A origem das investigações que culminaram nos mandados de busca e apreensão reside nos depoimentos detalhados de seis parlamentares e de uma servidora. Os relatos desses indivíduos forneceram à Polícia Federal um panorama consistente das supostas irregularidades e do modus operandi empregado na manipulação das emendas. Os deputados Glauber Braga (Psol-RJ), José Rocha (União-BA), Adriana Ventura (Novo-SP), Fernando Marangoni (União-SP), Dr. Francisco (PT-PI) e o senador Cleitinho (Republicanos-MG) foram os que prestaram depoimento, corroborando a tese de um direcionamento forçado de recursos.

A autorização do STF e os indícios de manipulação

A autorização para as buscas foi concedida pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também é o relator de uma ação que anteriormente vedou as práticas mais opacas do “orçamento secreto”, exigindo maior transparência da Câmara. Antes das buscas físicas, o sigilo telemático de Mariângela Fialek já havia sido quebrado. No entanto, a Polícia Federal constatou a ausência de mensagens salvas em seus dispositivos ou em nuvens de dados, apesar de ter encontrado indícios da prática de crimes. Esta constatação foi crucial para a decisão de Dino. O ministro justificou a medida pela “concreta possibilidade de que a representada tenha adotado condutas voltadas a impedir a realização de backup de seus dados mais sensíveis em ambiente de nuvem, mantendo acervo em meios físicos (papéis, máquinas, etc.)”. Flávio Dino sublinhou que os indícios apontam para uma “atuação contínua, sistemática e estruturada” na organização do esquema, justificando as buscas no gabinete da Câmara pelo “maior potencial probatório”, dado que as ações sob suspeita teriam sido empreendidas no contexto da rotina funcional da investigada na Casa Legislativa.

O modus operandi do “orçamento secreto”

As falas dos seis parlamentares que depuseram à PF reforçaram as suspeitas de que havia um “redirecionamento forçado” de recursos de emendas, orquestrado pela ex-assessora e, indiretamente, associado ao deputado Arthur Lira. Em um relatório parcial, a Polícia Federal destacou a trajetória de Mariângela Fialek, que desde 2020 ocupou diversos cargos estratégicos, tanto em empresas públicas quanto no próprio Legislativo. Esses cargos, sempre por indicação de Lira, supostamente lhe confeririam a prerrogativa e a capacidade de manipular o direcionamento das emendas parlamentares, consolidando um sistema que favorecia certas localidades ou interesses.

A “conta de padaria” e a falta de formalidade

Um dos achados mais emblemáticos dos investigadores foi uma anotação manuscrita que coincidia com o direcionamento de emendas. Esse detalhe revelou um “incomum desapego à formalidade” na formulação do Orçamento da União, uma prática inaceitável para a gestão de recursos públicos. A Polícia Federal descreveu a situação com a metáfora da “conta de padaria”, indicando um nível alarmante de informalidade e falta de controle. “Uma anotação à mão, realizada de maneira rudimentar, foi responsável pela realocação de recursos de um Município para outro. Lamentavelmente, não há como não comparar a maneira de controlar e organizar o orçamento secreto coordenado por Tuca a uma ‘conta de padaria'”, destacaram os investigadores. Essa comparação sublinha a extrema informalidade e a ausência de rastreabilidade e accountability que caracterizaram a gestão do “orçamento secreto”, transformando bilhões de reais em verbas públicas em um processo obscuro e suscetível a desvios.

Repercussões e o contexto das investigações

A operação da Polícia Federal e as alegações contra Mariângela Fialek inserem-se em um cenário mais amplo de investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal. Várias apurações sobre desvios de recursos de emendas parlamentares oriundas do “orçamento secreto” estão em andamento, evidenciando a complexidade e a profundidade do problema. O caso de Tuca e sua ligação com a Presidência da Câmara durante a gestão de Arthur Lira são particularmente sensíveis, dadas as posições de poder e influência envolvidas.

O cenário político e a atuação do Supremo

A atuação do Supremo, por meio do ministro Flávio Dino, reflete o empenho do Judiciário em promover a transparência e a correta aplicação dos recursos públicos. A decisão de vedar as práticas mais obscuras do “orçamento secreto” e de exigir critérios mínimos de rastreabilidade e identificação dos beneficiários finais foi um marco importante. No entanto, a persistência de indícios de manipulação, como os agora revelados, demonstra os desafios contínuos na fiscalização e no combate à corrupção dentro das estruturas legislativas. A investigação contra Mariângela Fialek é, portanto, um capítulo de uma luta maior pela integridade e pela accountability na política brasileira, com potenciais desdobramentos significativos para a compreensão e a correção de falhas sistêmicas na gestão orçamentária.

Dúvidas frequentes

O que é o “orçamento secreto” e por que é investigado?
O “orçamento secreto” é o nome dado à prática de destinar verbas públicas por meio de emendas parlamentares sem a identificação clara do político que as indicou ou dos beneficiários finais. Ele é investigado por sua falta de transparência e pela alta suscetibilidade a desvios, loteamento político de recursos e outras irregularidades que comprometem a gestão eficiente e ética do dinheiro público.

Quem é Mariângela Fialek e qual seu suposto papel?
Mariângela Fialek, também conhecida como “Tuca”, é uma ex-assessora do deputado Arthur Lira, tendo trabalhado para ele durante sua presidência na Câmara dos Deputados e atualmente ocupando um cargo no gabinete da presidência do PP na Casa. Ela é alvo de investigações por seu suposto papel central na manipulação e direcionamento de emendas do “orçamento secreto”, enviando ordens para comissões liberarem verbas, especialmente para Alagoas.

Por que a Polícia Federal realizou buscas na Câmara dos Deputados?
As buscas na Câmara foram autorizadas pelo ministro Flávio Dino, do STF, após a PF constatar que, embora o sigilo telemático de Fialek tivesse sido quebrado e houvesse indícios de crimes, não foram encontradas mensagens salvas em seus aparelhos ou nuvens de dados. A medida foi justificada pela “concreta possibilidade” de que ela tivesse removido ou ocultado dados sensíveis, exigindo a busca por evidências físicas (papéis, máquinas) diretamente nos locais onde as supostas ações ocorreram.

Qual a importância do ministro Flávio Dino neste caso?
O ministro Flávio Dino é crucial para o caso, pois foi ele quem autorizou os mandados de busca e apreensão contra Mariângela Fialek, após analisar os indícios apresentados pela Polícia Federal. Além disso, ele é o relator de uma ação no STF que anteriormente vedou as práticas opacas do “orçamento secreto”, obrigando a Câmara a adotar critérios de transparência. Sua atuação reforça o compromisso do Judiciário com a fiscalização e a garantia da transparência na gestão dos recursos públicos.

Mantenha-se informado sobre os desdobramentos desta e de outras investigações que buscam garantir a transparência e a accountability na gestão dos recursos públicos.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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