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Geração de resíduos sólidos no Brasil cresce em 2024, com avanços na

© Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O cenário da gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil em 2024 revela uma complexidade crescente, marcada tanto pelo aumento na geração quanto por importantes avanços na busca por uma destinação mais adequada. Um estudo recente aponta que o país gerou mais de 81 milhões de toneladas de RSU, um volume que exige atenção contínua e estratégias eficazes. Embora a maior parte desses resíduos seja coletada, a proporção de material que recebe tratamento ambientalmente apropriado ainda enfrenta desafios significativos. No entanto, houve uma melhora notável na destinação final, indicando um progresso gradual em meio a um contexto de persistentes obstáculos, especialmente no que tange à eliminação dos lixões e à implementação de soluções integradas para a economia circular. A introdução de novas métricas, como a reciclagem bioenergética, e o fortalecimento da logística reversa sinalizam um futuro mais promissor para a sustentabilidade.

Aumento na geração e desafios da destinação

Panorama nacional dos resíduos

Em 2024, o Brasil registrou a geração de 81,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU), representando um crescimento de 0,75% em comparação com o ano anterior. Esse volume expressivo equivale a uma média de 384 quilos por habitante ao ano, ou cerca de 1,241 quilos por dia. Do total gerado, 76,4 milhões de toneladas, correspondendo a 93,7%, foram efetivamente coletadas. Contudo, a destinação ambientalmente adequada desses resíduos ainda é um ponto crítico. Embora 41,4 milhões de toneladas (59,7% do total coletado) tenham sido encaminhadas para aterros sanitários, um avanço em relação a períodos anteriores, uma parcela considerável permanece sem o tratamento adequado.

A persistência dos lixões e a visão de especialistas

Apesar dos avanços, a disposição final inadequada ainda afeta 40,3% do total de resíduos gerados no país, que são lançados em locais impróprios, como lixões, ou enterrados nas propriedades geradoras. Embora esse índice represente uma melhoria em relação aos 41,5% registrados no ano anterior, o problema está longe de ser resolvido. Especialistas do setor destacam que, mesmo com a proibição de todas as formas de destinação irregular de resíduos coletados nos municípios, estima-se a existência de quase 3 mil lixões. Esses locais continuam a receber passivos ambientais que ameaçam a saúde pública, mas poderiam ser transformados em ativos econômicos para o país por meio de uma gestão eficiente.

Avanços na reciclagem e energia

O cenário da reciclagem de secos

No que diz respeito à reciclagem, 2024 marcou um ano de progresso. Cerca de 7,1 milhões de toneladas de resíduos secos foram encaminhadas para reciclagem, o que corresponde a 8,7% do RSU gerado. Desse volume, uma parcela significativa de 2,5 milhões de toneladas teve origem no serviço público de coleta. No entanto, a contribuição da coleta informal também foi notável, com 4,6 milhões de toneladas transportadas diretamente para os centros de reciclagem. Aproximadamente 2,5 milhões de toneladas, ou 52% desse material, foram efetivamente recuperadas, enquanto o restante foi destinado como rejeito.

A emergência da reciclagem bioenergética

Pela primeira vez, análises setoriais integraram o reaproveitamento de resíduos orgânicos ou não recicláveis para a produção de energia, estabelecendo o conceito de reciclagem bioenergética. Essa metodologia considera diversas práticas, como o uso de combustível derivado de resíduo (CDR), a produção de biogás e biometano, e a compostagem. O objetivo é unificar em um único dado o reaproveitamento de materiais orgânicos e outros inviabilizados para a reciclagem de secos, como papéis sujos de substâncias orgânicas. Essa abordagem, que se alinha com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, demonstra que a transformação de orgânicos em energia ou composto abrange um percentual maior (11,7%) do total de resíduos gerados, superando a reciclagem mecânica de secos, que atinge 8,7%.

Logística reversa e o papel dos municípios

Fortalecimento da economia circular

A análise da situação da logística reversa no país também apresenta dados positivos, apontando para uma evolução na adoção de um modelo de economia circular. Atualmente, 13 sistemas de logística reversa estão em operação, abrangendo desde agrotóxicos e baterias de chumbo ácido até eletrônicos, embalagens diversas, óleos lubrificantes usados, lâmpadas, latas de alumínio, medicamentos, pilhas e pneus. A publicação do Decreto 12.688/2025, conhecido como “Decreto do Plástico”, é um marco importante, pois ampliará de 13 para 14 o número de materiais incluídos nessa economia cíclica, impulsionando ainda mais a cadeia da gestão de resíduos.

Obstáculos e o apoio federativo para a gestão municipal

Apesar dos avanços, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) destaca que os municípios com até 50 mil habitantes são os que mais demandam apoio para erradicar os lixões e implantar aterros sanitários. O encerramento dos lixões e a operação de aterros sanitários demandam uma atuação federativa robusta, com a União e os estados oferecendo suporte técnico e financeiro. Os desafios são múltiplos: o alto custo de operação e a dificuldade em encontrar áreas que atendam aos rigorosos critérios da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que consideram fatores como tipo de solo, proximidade com lençol freático e zonas urbanas.

Em regiões como o Norte do país, encontrar um local que atenda a todas as exigências pode ser quase impossível. Além disso, em alguns estados com municípios de grande extensão territorial e pequeno porte populacional, os consórcios de resíduos tornam-se inviáveis. Para alcançar populações maiores que justifiquem um aterro, seriam necessárias estações de transbordo, elevando os custos de forma proibitiva para as pequenas prefeituras. Diante desse cenário, a CNM reforça a necessidade de um esforço federativo conjunto para que o Brasil consiga eliminar todos os lixões. A confederação também alerta que, embora a geração de energia a partir de resíduos seja promissora, seu alto custo a torna viável apenas para municípios ou consórcios com mais de 300 mil habitantes, e deve ser baseada em rejeitos para não prejudicar catadores e catadoras de materiais recicláveis.

Perspectivas para a gestão de resíduos no Brasil

A gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil em 2024 reflete um panorama de progresso cauteloso e desafios persistentes. O crescimento na geração de resíduos, embora acompanhado por uma melhora na destinação ambientalmente adequada, ressalta a urgência de fortalecer as políticas e infraestruturas existentes. A emergência da reciclagem bioenergética e a expansão da logística reversa demonstram o potencial de abordagens inovadoras e de uma economia mais circular. No entanto, a persistência dos lixões e as dificuldades enfrentadas pelos municípios de menor porte exigem uma cooperação federativa intensificada, com apoio técnico e financeiro da União e dos estados. A atenção à viabilidade econômica das soluções, como a geração de energia a partir de resíduos, e a proteção dos agentes sociais envolvidos, como os catadores, são cruciais para assegurar que o desenvolvimento da gestão de resíduos seja justo e sustentável para todos os brasileiros.

Perguntas frequentes

Qual foi o volume total de resíduos sólidos urbanos gerado no Brasil em 2024 e como ele foi destinado?
Em 2024, o Brasil gerou 81,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU). Desse total, 93,7% foram coletados, e 59,7% do volume coletado recebeu destinação ambientalmente adequada em aterros sanitários, enquanto 40,3% ainda foi descartado em locais inadequados, como lixões.

O que significa a “reciclagem bioenergética” e por que ela é considerada importante?
A reciclagem bioenergética é um conceito que unifica o reaproveitamento de resíduos orgânicos ou não recicláveis para a produção de energia e composto. Isso inclui práticas como o uso de combustível derivado de resíduo (CDR), produção de biogás, biometano e compostagem. Ela é importante por oferecer uma solução para materiais difíceis de reciclar mecanicamente e por apresentar um percentual de reaproveitamento de orgânicos maior que a reciclagem tradicional de secos.

Quais os maiores desafios para os municípios na gestão de resíduos e como superá-los?
Os municípios, especialmente os de menor porte, enfrentam desafios como o alto custo de operação de aterros sanitários, a dificuldade em encontrar áreas que atendam aos critérios ambientais rigorosos e a inviabilidade de consórcios em regiões com baixa densidade populacional. Para superá-los, é essencial o apoio técnico e financeiro da União e dos estados, além de políticas que incentivem soluções adaptadas às realidades locais.

Como a logística reversa contribui para a economia circular no país?
A logística reversa é fundamental para a economia circular, pois permite que produtos e embalagens retornem à cadeia produtiva após o uso, minimizando a extração de novas matérias-primas e reduzindo a geração de resíduos. Com 13 sistemas em operação e a adição de novos materiais, como os plásticos, ela promove o reuso, a reciclagem e a valorização de materiais, impulsionando a sustentabilidade e a eficiência dos recursos.

Conheça mais sobre as iniciativas de gestão de resíduos e descubra como você pode contribuir para um Brasil mais limpo e sustentável. Sua ação faz a diferença!

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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