Uma nova controvérsia abalou os bastidores do São Paulo Futebol Clube na segunda-feira, 15 de abril, com a revelação de áudios que apontam para um suposto esquema de comercialização irregular de camarotes do Estádio do Morumbis em dias de shows. A notícia rapidamente ganhou destaque, lançando uma sombra sobre a gestão do clube e levantando sérias questões sobre a conduta de seus dirigentes. O escândalo dos camarotes envolve figuras proeminentes, como Douglas Schwartzmann, diretor adjunto das categorias de base, e Mara Casares, diretora feminina, cultural e de eventos – e ex-esposa do presidente Julio Casares. As gravações sugerem que ambos estariam diretamente envolvidos na prática, que teria gerado ganhos financeiros significativos.
A deflagração do escândalo e as primeiras revelações
O São Paulo viu-se no centro de uma tempestade após o vazamento de áudios que indicam a manipulação de um espaço VIP do Morumbis, o camarote 3A, conhecido internamente como “sala presidência”. Este local, de acesso restrito, teria sido cedido a uma intermediária, Rita de Cassia Adriana Prado, com o intuito de ser comercialmente explorado durante eventos artísticos.
Áudios comprometem dirigentes do São Paulo
Nas gravações que vieram a público, Douglas Schwartzmann, figura com cargo diretivo no clube, admite explicitamente que ele e outras pessoas teriam auferido lucros financeiros por meio dessa prática. O caso mais emblemático citado nas conversas refere-se ao show da cantora Shakira, ocorrido em fevereiro. Segundo o que foi apurado, os ingressos para este camarote teriam sido vendidos por valores que chegavam a R$ 2,1 mil cada, gerando um faturamento estimado em R$ 132 mil somente para essa apresentação. A confissão de Schwartzmann nas gravações joga luz sobre a gravidade da situação, sugerindo um esquema que operava às margens das regras e da transparência necessárias para uma instituição do porte do São Paulo Futebol Clube.
O caminho judicial: de uma disputa particular a um caso público
A situação escalou para o âmbito judicial não por uma investigação interna do clube, mas a partir de uma ação movida por uma das partes envolvidas. Rita de Cassia Adriana Prado, a intermediária que teria recebido o camarote 3A, ingressou com uma ação na 3ª Vara Cível de São Paulo contra Carolina Lima Cassemiro, da empresa Cassemiro Eventos Ltda. Adriana alega que Carolina, após um pagamento parcial do valor combinado pela exploração do camarote, reteve indevidamente um envelope contendo 60 ingressos do espaço VIP no dia do show. O valor acordado para a compra desses ingressos pela empresa de Carolina seria de R$ 132 mil, dos quais apenas R$ 100 mil teriam sido efetivamente pagos. A disputa levou Adriana a registrar um Boletim de Ocorrência na 34ª Delegacia de Polícia de São Paulo, conferindo contornos de crime ao que até então parecia uma divergência comercial. Foi a partir da deflagração desse processo que o suposto esquema de comercialização de camarotes do Morumbis veio à tona, transformando uma briga particular em um escândalo público que atinge a cúpula diretiva do tricolor paulista.
Pressionando para o silêncio: o teor das gravações
Com a abertura do processo judicial, a pressão sobre os supostos envolvidos aumentou consideravelmente. As gravações revelam uma série de conversas onde Douglas Schwartzmann e Mara Casares tentam persuadir Adriana Prado a retirar a ação, preocupados com as consequências que a revelação do esquema traria para suas imagens e carreiras dentro do São Paulo Futebol Clube.
A estratégia de Douglas Schwartzmann
Douglas Schwartzmann, em diversos trechos dos áudios, demonstra clara apreensão com os desdobramentos do processo judicial. Ele não apenas admite ter “ganho” com o repasse de camarotes, mas também pressiona intensamente Adriana a recuar, alertando para os possíveis danos à imagem de Mara Casares, do presidente Julio Casares (em virtude da relação de ex-cônjuges) e de Marcio Carlomagno, superintendente geral do clube, que é citado como responsável por autorizar a cessão do camarote. Em uma das passagens mais contundentes, Schwartzmann questiona: “Você nunca soube que aquilo era feito de forma clandestina? A palavra é essa. Ou você não sabia? Você sabia ou não?”. Ele prossegue, detalhando os riscos: “O que vai acontecer: a Mara vai ter que se explicar. Como é que faz no clube a hora que souber que ela te deu um camarote para explorar? Você vai acabar com a vida da Mara dentro do clube. E do Julio, porque ela é (ex) mulher do Julio”. A pressão se estende a Carlomagno: “E o Marcio vai ser mandado embora, porque foi ele quem concedeu o camarote para ela (Mara). Eu não tenho nada com isso, não tenho meu nome em nada. Não peguei camarote nenhum, não tenho nenhum documento lá. Agora, a Mara tem e o Marcio também. Quer prejudicar a Mara e o Marcio?”. O diretor adjunto chega a relatar uma conversa com Carlomagno, onde este expressa preocupação com a necessidade de “declarar a verdade” caso o processo avance. Schwartzmann também insinua o fim de uma “parceria” antes de uma série de shows futuros no Morumbis, caso Adriana não retire a ação, deixando claro os prejuízos mútuos que o caso poderia gerar.
Mara Casares e a defesa da carreira
Mara Casares, por sua vez, também participa ativamente da pressão sobre Adriana. Nas gravações, a diretora feminina, cultural e de eventos suplica para que o processo seja encerrado, argumentando que a continuidade da ação judicial poderia comprometer seriamente sua trajetória no São Paulo Futebol Clube. Ela afirma ter planos ambiciosos no clube e que seria a principal prejudicada caso o caso ganhasse proporções maiores. Em um momento crítico, Schwartzmann aconselha Mara sobre como agir caso a ação não fosse retirada: “Mara, vou te dar um conselho, com todo respeito. Se não sair esse processo, você vai ter que testemunhar contra a Adriana. Você vai falar que não teve participação, que você nunca deu nada, que você foi lesada. Que nem sabia disso. Vai ter que ficar do lado da outra lá”. Este trecho evidencia a tentativa de construir uma narrativa defensiva para Mara, mesmo que isso implicasse em negar qualquer envolvimento. Nem Adriana, nem Mara, nem Douglas explicitam nas gravações há quanto tempo a suposta parceria existia ou a quantidade exata de camarotes que teriam sido negociados de forma irregular, deixando em aberto a extensão e a profundidade do esquema.
As versões dos envolvidos e a posição do clube
Diante da repercussão do escândalo, o São Paulo Futebol Clube e os citados nos áudios apresentaram suas versões dos fatos, buscando esclarecer ou refutar as acusações de comercialização irregular de camarotes.
O posicionamento oficial do São Paulo FC
Em um primeiro momento, o São Paulo emitiu uma nota oficial confirmando que o camarote 3A, objeto da controvérsia, pertence de fato ao clube. A diretoria informou que, na ocasião do show da Shakira, o espaço estava destinado à diretoria feminina, cultural e de eventos, pasta comandada por Mara Casares. No entanto, o clube declarou desconhecer o teor dos áudios vazados e negou veementemente a existência de qualquer esquema ilegal envolvendo seus camarotes. Posteriormente, em uma segunda nota, o São Paulo Futebol Clube reiterou sua posição, afirmando que refuta categoricamente a comercialização irregular do camarote, mantendo a postura de distanciamento das práticas ilegais imputadas aos seus dirigentes.
As justificativas dos citados
Mara Casares, apesar de reconhecer que o camarote 3A foi cedido à intermediária Adriana Prado, negou ter recebido qualquer benefício financeiro decorrente dessa cessão. Ela argumentou que a entrega do espaço foi pontual e baseada em uma relação de confiança mútua, que teria sido quebrada quando Adriana, supostamente, repassou o camarote a terceiros sem a devida autorização. Mara ainda afirmou que buscou Douglas Schwartzmann apenas para obter auxílio na tentativa de resolver o conflito com Adriana.
Marcio Carlomagno, superintendente geral e figura também citada na gravação, expressou sua surpresa com o uso de seu nome nas conversas e negou que o camarote em questão tenha sido utilizado de forma clandestina ou irregular sob sua responsabilidade. Sua declaração busca dissociá-lo de qualquer envolvimento no esquema.
Carolina Lima Cassemiro, por sua vez, a quem Adriana Prado processou, afirmou que desconhecia a irregularidade do espaço e alegou ter sido enganada. Ela sustentou que cumpriu o acordo que havia sido firmado com Adriana, insinuando que a responsabilidade pela falha estaria na outra parte.
Até o momento da publicação, Douglas Schwartzmann e Rita de Cassia Adriana Prado não haviam respondido aos contatos para se manifestarem sobre as acusações e o conteúdo das gravações. A ausência de suas declarações adiciona uma camada de incerteza e aguarda-se novos posicionamentos.
Consequências e desdobramentos futuros
O escândalo dos camarotes do Morumbis não apenas expõe supostas condutas irregulares de dirigentes, mas também acende um alerta sobre a governança e a imagem do São Paulo Futebol Clube. As implicações são vastas, abrangendo desde punições internas até possíveis processos criminais e desdobramentos políticos.
De acordo com o estatuto do São Paulo, condutas que causem dano à imagem ou à reputação do clube podem resultar em uma série de punições para os membros envolvidos. Essas sanções variam desde uma simples advertência formal até a perda de mandato e a inelegibilidade para ocupar cargos futuros na instituição. Tendo em vista a gravidade das alegações e a repercussão midiática, os dirigentes supostamente envolvidos enfrentam um risco real de perder suas posições e ter suas carreiras dentro do clube comprometidas. Advogados que avaliaram o caso indicam que a situação pode se enquadrar no crime de estelionato, conforme previsto no artigo 171 do Código Penal brasileiro. A pena para este tipo de delito pode variar de um a cinco anos de reclusão, além do pagamento de multa, transformando o problema administrativo em uma questão penal grave. A controvérsia também gerou um impacto político significativo dentro do São Paulo. Conselheiros que fazem parte da oposição à atual gestão de Julio Casares aproveitaram o momento para intensificar as críticas e pedir o afastamento do presidente, argumentando que o escândalo de venda ilegal de camarotes no Morumbis exige uma resposta firme e imediata da cúpula do clube. A exigência de um inquérito aprofundado e a possibilidade de mais revelações mantêm o clube em estado de alerta, com desdobramentos que prometem continuar movimentando os bastidores do tricolor nos próximos meses.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Qual a origem do escândalo dos camarotes do São Paulo?
O escândalo foi deflagrado pela revelação de áudios que apontam para a comercialização irregular de camarotes do Morumbis durante shows. A situação ganhou contornos judiciais após uma intermediária, Rita de Cassia Adriana Prado, processar outra pessoa por retenção indevida de ingressos, o que expôs o suposto esquema.
2. Quem são os principais envolvidos na suposta comercialização irregular?
Os áudios citam Douglas Schwartzmann, diretor adjunto das categorias de base, e Mara Casares, diretora feminina, cultural e de eventos do clube e ex-esposa do presidente Julio Casares. Marcio Carlomagno, superintendente geral, também é mencionado nas gravações, mas nega envolvimento.
3. Quais as possíveis consequências para os dirigentes e para o clube?
Os dirigentes envolvidos podem enfrentar punições internas, como advertência, perda de mandato e inelegibilidade, conforme o estatuto do São Paulo. Legalmente, o caso pode ser enquadrado como estelionato, com penas de um a cinco anos de reclusão e multa. Politicamente, conselheiros da oposição já pedem o afastamento do presidente Julio Casares.
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Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br